Terapia em Foco

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Daniella Sinotti
  • Escolha profissional: um drama para muitos adolescentes

Escolha profissional: um drama para muitos adolescentes

02 de agosto de 2017 \\ Terapia em Foco

Tenho recebido algumas mensagens de adolescentes angustiados com a questão da escolha de uma profissão. Ao ingressar no Ensino Médio, crescem os questionamentos dos familiares e também de colegas e professores sobre uma decisão nesse sentido. Quando essa dúvida se instala, a ajuda terapêutica pode ser de grande valor. Há quem tenha uma vocação explícita desde a infância, ou aqueles que seguem um rumo traçado pela família sem muitos questionamentos, mas existe também o sofrimento diante das inúmeras possibilidades, da dúvida e da cobrança excessiva.
Entre as mensagens, me chamou atenção a de uma jovem cobrada pelos pais para que ingresse em um curso de Medicina. Ao tempo em que não quer desapontar a família, não tem certeza da aptidão para seguir esse rumo profissional. Pais investem dinheiro na formação dos filhos, mas essa questão não deve ser encarada somente seguindo uma lógica mercantilista. Há milênios o filósofo grego Aristóteles já pregava que “poder exercer livremente as próprias aptidões, sejam quais forem, é a verdadeira felicidade”. Esse é um aspecto relevante.
A insatisfação profissional costuma estar relacionada a uma série de problemas de saúde mental. Um levantamento divulgado pela Previdência Social traz dados alarmantes. Transtornos mentais e patologias psiquiátricas originadas pelo descontentamento no trabalho e o estresse ocupacional são a terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil. Depressão, estresse pós-traumático e o consumo excessivo de álcool e outras drogas aparecem no topo desse ranking.
Se a compensação financeira e a necessidade da satisfação pessoal precisam ser levadas em conta, é preciso observar também que a adolescência é uma fase de transição, quando muitas dúvidas e questionamentos se instalam. Por esses e outros fatores, pode ser muito útil uma investigação mais profunda para cada caso, com auxílio profissional. É tarefa dos pais cuidar do desenvolvimento moral, intelectual e afetivo dos filhos, mas chega um tempo em que cada um precisa responder por suas escolhas. 
No livro ‘Aforismos para a sabedoria de vida’, Shopenhauer (1788 – 1860) faz a seguinte reflexão sobre a fonte principal de felicidade humana: “É uma grande insensatez perder no interior para ganhar no exterior, isto é, entregar no todo ou em grande parte sua quietude, seu ócio e sua independência em troca de brilho, posição, pompa, título e honra”. É importante levar em conta que na vida prática, real, quando não há paixão pelo que se faz, a rotina e o cotidiano trazem à tona toda a insatisfação e os processos de angústia. 

Texto escrito por Daniella Sinotti, Terapeuta Transpessoal Sistêmica e Jornalista.