Quanto vale uma vida?
É muito comum comentar-se
aqui no Brasil, e em outros países
da América do Sul, que o povo
europeu é frio por natureza, de
índole calculista e distante de todo
esse calor humano e da
solidariedade que marca o cidadão
que vive do lado de cá, no
continente americano.
Se o povo da Europa é frio,
então que Deus o mantenha assim.
Lá, dificilmente um ser humano
falece na porta de um hospital,
mendigando atendimento médico.
Lá, o direito à saúde é de todos,
sem discriminação de cor, religião,
idade, posição social, financeira,
etc.
O povo inglês, por exemplo, é
frio no que concerne a
sentimentalismos exagerados ou
demonstrações exacerbadas de
carinho. A data do aniversário de
um amigo, ente familiar ou mesmo
um cônjuge pode passar (e
geralmente passa) despercebida
sem o mínimo prejuízo para os
laços afetivos. Entretanto, é quase
zero o índice de miseráveis e
pedintes nas ruas, porque todos têm
emprego digno, com salários
capazes de satisfazer a totalidade
das necessidades básicas do
cidadão. E dizem que eles são
insensíveis. Que Deus os conserve
assim!
Uma amiga minha, que
reside hoje na Suíça, escreveu-me
recentemente e me contou que as
pessoas lá parecem máquinas, de
tão frias que são. A alegria e o calor
de nossa gente brasileira é a única
coisa que lhe entope o peito de
saudade, porque lá na Suíça
simplesmente não existem pobres.
Todos são felizes (inclusive ela!).
Contou-me ainda que é bastante
comum as pessoas saírem de casa
de bicicleta, parar em um lugar
qualquer, encostar sua “magrela”,
andar, passear, fazer as suas
coisas e depois retornar e apanhá-la
intacta. Já pensaram em fazer isso
aqui no Brasil?
Todas as críticas que fizerem
aos europeus serão um nada diante
da ganância, da mesquinhez, da
discriminação e da falta de amor a
si mesmo e ao próximo por parte de
muitos brasileiros.
Há alguns anos, aqui no
Brasil, toda a imprensa divulgou um
episódio que deixaria decepcionado
e revoltado qualquer europeu. Um
homem faleceu na UTI de um dos
nossos grandes hospitais
simplesmente porque não aceitaram
o seu cheque. Ou seja, o
atendimento nem era gratuito, como
deveria ser, se fossemos um país
mais justo e humano para com os
seus cidadãos.
Quanto vale uma vida?
Quanto vale uma vida humana?
Cem trilhões de reais? Cem contos
de réis? Quanto vale uma vida?
Enquanto o cerne dessas
reflexões não chega à mente dos
que efetivamente podem mudar
para melhor os nossos destinos,
continuamos contemplando
indignados, ainda que resignados,
todas as chagas presentes no
espírito do povo mais solidário e
amoroso do mundo: o povo
brasileiro.