Quanto vale uma vida?

14 de março de 2015 \\ Milton de Britto

É muito comum comentar-se 
 
aqui no Brasil, e em outros países 
 
da América do Sul, que o povo 
 
europeu é frio por natureza, de 
 
índole calculista e distante de todo 
 
esse calor humano e da 
 
solidariedade que marca o cidadão 
 
que vive do lado de cá, no 
 
continente americano. 
 
Se o povo da Europa é frio, 
 
então que Deus o mantenha assim. 
 
Lá, dificilmente um ser humano 
 
falece na porta de um hospital, 
 
mendigando atendimento médico. 
 
Lá, o direito à saúde é de todos, 
 
sem discriminação de cor, religião, 
 
idade, posição social, financeira, 
 
etc. 
 
O povo inglês, por exemplo, é 
 
frio no que concerne a 
 
sentimentalismos exagerados ou 
 
demonstrações exacerbadas de 
 
carinho. A data do aniversário de 
 
um amigo, ente familiar ou mesmo 
 
um cônjuge pode passar (e 
 
geralmente passa) despercebida 
 
sem o mínimo prejuízo para os 
 
laços afetivos. Entretanto, é quase 
 
zero o índice de miseráveis e 
 
pedintes nas ruas, porque todos têm 
 
emprego digno, com salários 
 
capazes de satisfazer a totalidade 
 
das necessidades básicas do 
 
cidadão. E dizem que eles são 
 
insensíveis. Que Deus os conserve 
 
assim! 
 
Uma amiga minha, que 
 
reside hoje na Suíça, escreveu-me 
 
recentemente e me contou que as 
 
pessoas lá parecem máquinas, de 
 
tão frias que são. A alegria e o calor 
 
de nossa gente brasileira é a única 
 
coisa que lhe entope o peito de 
 
saudade, porque lá na Suíça 
 
simplesmente não existem pobres. 
 
Todos são felizes (inclusive ela!). 
 
Contou-me ainda que é bastante 
 
comum as pessoas saírem de casa 
 
de bicicleta, parar em um lugar 
 
qualquer, encostar sua “magrela”, 
 
andar, passear, fazer as suas 
 
coisas e depois retornar e apanhá-la 
 
intacta. Já pensaram em fazer isso 
 
aqui no Brasil? 
 
Todas as críticas que fizerem 
 
aos europeus serão um nada diante 
 
da ganância, da mesquinhez, da 
 
discriminação e da falta de amor a 
 
si mesmo e ao próximo por parte de 
 
muitos brasileiros. 
 
Há alguns anos, aqui no 
 
Brasil, toda a imprensa divulgou um 
 
episódio que deixaria decepcionado 
 
e revoltado qualquer europeu. Um 
 
homem faleceu na UTI de um dos 
 
nossos grandes hospitais 
 
simplesmente porque não aceitaram 
 
o seu cheque. Ou seja, o 
 
atendimento nem era gratuito, como 
 
deveria ser, se fossemos um país 
 
mais justo e humano para com os 
 
seus cidadãos. 
 
Quanto vale uma vida? 
 
Quanto vale uma vida humana? 
 
Cem trilhões de reais? Cem contos 
 
de réis? Quanto vale uma vida? 
 
Enquanto o cerne dessas 
 
reflexões não chega à mente dos 
 
que efetivamente podem mudar 
 
para melhor os nossos destinos, 
 
continuamos contemplando 
 
indignados, ainda que resignados, 
 
todas as chagas presentes no 
 
espírito do povo mais solidário e 
 
amoroso do mundo: o povo 
 
brasileiro.

Milton de Britto