• Com crise hídrica, oferta de energia eólica pode dobrar em poucos meses

Com crise hídrica, oferta de energia eólica pode dobrar em poucos meses

24 de junho de 2021 \\ Geral

Se o apagão, em 2001, deixou como herança para o Brasil uma rede de termelétricas - fonte energética considerada cara -, a atual crise hídrica tende a deixar como legado mais investimentos em energia eólica, solar e de biomassa. Só a eólica deve dobrar a oferta em poucos meses.

Empresas buscam nessas fontes formas de se precaver de futuras secas, que tendem a se tornar mais frequentes com as mudanças climáticas, e veem a água como alvo de debates e perdendo espaço na geração energética.

— O uso da água vai ser analisado a partir de suas prioridades, como consumo humano e animal, deixando a geração elétrica em segundo plano — afirmou Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABsolar).

Para Luiz Serrano, sócio e diretor da RZK Energia, o custo elevado decorrente da crise hídrica será um grande acelerador para as decisões de investimento nessas fontes. O preço do megawatt/hora (MWh) no mercado spot passou de R$ 300, em março, para os atuais R$ 520.


Rimac


Isso ainda deve se refletir na conta de luz dos consumidores residenciais na revisão tarifária anual, mas já impacta os grandes consumidores que não tinham energia contratada:

— O investimento em autoprodução por parte de empresas que são grandes consumidoras deve ficar mais nítido no segundo semestre — afirma Serrano.

Biogás em frigoríficos
Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), afirma que a energia vinda do vento pode chegar a 18% do fornecimento, o dobro do patamar atual, em setembro, quando os níveis dos rios deverão estar em seu pior momento:

— Campos eólicos que estão em fase final de instalação e têm capacidade de 1 gigawatt (GW) deverão entrar em operação antecipada, ganhando em média três meses em burocracia e obras.

A biomassa, por sua vez, continua muito concentrada em aterros sanitários e no bagaço da cana-de-açúcar, mas tem potencial para se diversificar. Manuela Kayath, presidente da MDC, empresa que opera biometano e vapor a partir de biomassa, vê uma aceleração nos projetos do setor:

— Nos frigoríficos será possível gerar biogás a partir dos dejetos animais com um processo de biodigestão.

Ainda assim, a Associação Brasileira da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) ressalta que o país explora hoje apenas 15% do potencial de biomassa do setor. Ou seja, o Brasil pode ter um rápido crescimento na geração de energia a partir do bagaço da cana.

A RZK Energia entregou para a Claro a maior usina de geração distribuída do Brasil, uma unidade de biogás em Nova Iguaçu que gera, a partir de resíduos orgânicos, 4,65 MW médios.

A operadora de telefonia, que já conta com 52 usinas de fontes renováveis, prevê mais investimentos em projetos de energia:

— O programa “Energia da Claro” é dinâmico e tem previsão de atender a 80% do consumo total de energia da Claro, com redução nas emissões de CO2 na atmosfera — conta Hamilton Silva, diretor de Infraestrutura da empresa.

João Teles, pesquisador da FGV Energia, ressalta que a diversificação da matriz elétrica do país é a razão de a atual crise hídrica não ter se transformado, automaticamente, em uma crise energética.

Diferentemente do que ocorreu no racionamento de 2001, quando as hidrelétricas representavam cerca de 90% da geração do país, hoje elas respondem por 63,8%, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). E as fontes renováveis são relevantes: a eólica tem 9,2%, biomassa e biogás respondem por 9%, e a solar, por 1,7%.

Parceria com Reino Unido
Neste cenário, energias ainda mais disruptivas, como a eólica offshore (com campos marinhos) e o hidrogênio verde, que ainda são promessas no país, devem ganhar velocidade. E um dos maiores incentivadores é o governo britânico.

Simon Wood, cônsul-geral do Reino Unido no Brasil, afirma que a implementação global da eólica offshore deveria estar sendo feita em uma velocidade quatro vezes maior. Ele acredita que o Brasil, com uma costa marítima tão ampla, tem grande potencial, ainda que precise superar alguns problemas regulatórios e de financiamento.

— Embora se trate de uma questão ambiental, a transição energética cada vez mais é uma questão econômica também. É cada vez mais barato produzir energia a partir de eólicas offshore do que de derivados de petróleo. Temos muitas parcerias com o Brasil, inclusive na questão do financiamento. E já temos até cooperações municipais, como entre as cidades de Aberdeen, no Reino Unido, e Macaé, no Rio — conta Wood.

O cônsul-geral espera mais parcerias em hidrogênio verde e energia solar — que, no chuvoso Reino Unido, têm o dobro de participação na matriz energética total que no Brasil.

Fonte: O Globo

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Geral.