• Tracupá: Um tesouro no meio do sertão

Tracupá: Um tesouro no meio do sertão

03 de novembro de 2020 \\ Geral

Nas andanças que o Jornalismo nos presenteia, por esse mundão de Deus – e que queremos partilhar com vocês que gentilmente nos acompanham –, a equipe do Conectadonews.com.br. teve a grata alegria de conhecer, bem de perto, um encanto de lugar, cujo ar exala a força do talento aliado ao trabalho.

E a grandeza desse local, aparentemente pacato, nos remete às palavras da icônica Clarisse Lispector, que disse: “eu sou mansa, mas minha função de viver é feroz.” Pois, disfarçada de tímida (talvez até para, quem sabe, não deixar acanhadas as outras cidades), ainda se mantém reservada nos bastidores, como quem espera o momento ideal para estrear no palco. Mas, nos permitam contar um segredo: esse lugar é o próprio espetáculo! E não é exagero não! Querem saber de que local estamos falando?

Convido vocês, queridos leitores, a uma viagem por Tracupá: um tesouro no meio do sertão. O distrito, há cerca de 153 Km de Feira de Santana, faz parte do município de Tucano, território do sisal; mas em Tracupá,quem exercecom maestria, seu papel de protagonista, é o couro!

Conhecemos o senhor Carlos José Martins Góes, o Seu Zuza, como é carinhosamente chamado, que em entrevista ao Conectadonews, nos contou um pouco da sua trajetória de vida e trabalho nesse paraíso: “no artesanato com dezessete anos eu já trabalhava; fui pra São Paulo, lá aprendi mais, porque São Paulo ensina, trabalhei muito, quando voltei comecei a fazer carteiras, aí apareceu uma senhora de Aracaju, que insistiu que eu fizesse bolsas, que estavam na moda, de franja de camurção. Eu fiz as bolsas dela, eu já fazia umas perneiras de couro, aí já me ajudou, porque a mente abriu. Como eu não tenho leitura, aí a minha mente abre. Eu tenho um amigo que é Promotor e ele diz que quem não tem leitura a mente tá vazia, ela aguenta a pancada. É uma coisa impressionante!”

Seu Zuza ainda falou mais sobre a sua vida, que tanto nos serve de exemplo: “eu faço muitas coisas interessantes na minha vida. Já dei três cursos, inclusive um no presídio de Serrinha, onde falei três horas e meia sem parar (gargalhadas). Desses presidiários, alguns com duas aulas já sabiam costurar. O mais difícil do couro é costurar, a ciência tá no corte e na costura.”

Perguntado sobre a concorrência, uma vez que ele foi o primeiro da cidade a fabricar bolsas, cintos, carteiras e hoje já existirem dezenas de fabricantes, o homem de brilho nos olhos respondeu: “na parte financeira, eu acredito que a gente continue até ganhando mais, porque você passa a ter mais conhecimento, cada aprendizado vem de acordo à vida, o profissional não tem medo de concorrente, não existe concorrente pra profissional. Me sinto uma pessoa humilde, sou trabalhador, vim da roça, vejo muitos profissionais que trabalham melhor do que eu, só que tem um porém, eles esquecem de uma coisa: o tratamento. Eu nasci pra tratar gente, eu gosto de labutar com gente, e quem gosta de labutar com gente passa a conquistar as pessoas.”


“Tem horas que eu vejo bolsas irem pra fora do Brasil, tem horas que eles trazem bolsas de lá pra eu copiar, então eu me sinto um homem realizado, não tenho do que reclamar da vida, tenho dois filhos, um casal. Um dia, minha menina, com dezessete anos, me perguntou: ‘meu pai, como é andar pelo mundo sem saber ler?’ Eu disse: é um pouco complicado, mas eu tenho um filho formado, tô tentando formar você e tô vivo do mesmo jeito, nunca achei embaraço. Salvador eu boto na palma da minha mão.”

A respeito dos ganhos, ele conta: “depende do comércio, porque o comércio é um segredo, tem horas que você acerta numa vendagem e ganha bem, noutras vendagens diminui mais, mas o importante é que todo mundo vende, né? Tem muitos meios de o cara ganhar dinheiro, muitas vezes o cara não ganha dinheiro porque é preguiçoso, só pensa no do outro; tem que trabalhar. E Deus dá demais. Eu tenho muita clientela fora em Salvador, Jequié, Aracaju, Petrolina, vendo muito para um representante da região de Aracaju. Nesse tempo de pandemia eu vendi mais porque eu tinha minha clientela, tinha produção, nunca parei de trabalhar.”

“O mundo é uma escola”, finalizou o sábio Seu Zuza.

Ainda na cidade do couro, conversamos com Denise Oliveira Feitosa, 42 anos, que trabalha desde os doze anos com artigos de couro, que disse: ”mudou muita coisa, tudo se modificou, comecei a trabalhar com um produto mais bruto e conseguimos, graças a Deus, chegar a esse ponto de um público mais sofisticado, um produto mais sofisticado. Foi muita renovação, muito aprendizado. Hoje três funcionários terceirizados trabalham comigo. Nossa localidade é 0% de desemprego, se você vier aqui durante a semana vai encontrar as ruas vazias porque vai estar todo mundo trabalhando. Pesquisamos, fizemos cursos com o SENAI. O Brasil inteiro compra da gente, ainda não estamos exportando, falta o apoio de alguém que faça essa ponte, porque não é fácil, mas eu tenho fé em Deus que a gente vai conseguir exportar nossos produtos.”

Agradecemos por embarcarem conosco nos trilhos do conhecimento que hoje foi o nosso passeio pela bela e surpreendente Tracupá. Continuem sempre conectados com o Conectadonews.com.br!

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