O VÍCIO DE TRABALHAR

06 de outubro de 2013 \\ O Bispo

Um empresário, dono de várias empresas, depois de anos de trabalho, conseguiu passar uma semana com a família numa pousada  na ilha do Bananal. Num passeio no rio Araguaia conheceu um pescador. Todos os dias ele ia a um ponto privilegiado do rio, com seu barco movido a remos, e fisgava dois peixes. Um era para a família,  vendia o outro e comprava produtos para a alimentação diária.
 
NASCEU entre eles alguma amizade e o empresário achou-se no direito de sugerir-lhe um futuro melhor. Ele poderia pescar mais peixes e com as economias compraria um barco a motor. Com maiores lucros, poderia comprar um segundo barco que confiaria a um empregado. O passo seguinte seria construir uma pequena câmara fria onde armazenaria o pescado, para oferecer aos hotéis e supermercados. E depois disso poderia construir uma casa confortável na ilha, ampliar seu negócio e mesmo transferir-se para a capital.
 
SUPONHA que eu consiga tudo isso, perguntou o pescador, quais seriam as vantagens? Você poderia fazer turismo, como eu faço, curtir a vida e, até mesmo, poderia vir a esta ilha encantadora e, por puro prazer, pescar alguns peixes... Com um sorriso o pescador  concluiu a conversa dizendo: Eu já estou fazendo exatamente isto; sua proposta me levaria a fazer aquilo que já estou fazendo.
 
NA VIDA, corremos o risco de criar dependências. São hábitos repetidos, que acabam tornando-se muito fortes, fardos que condicionam nosso modo de ser. Algumas dependências mais comuns: a droga, o fumo, a bebida, o sexo, a internet... Existem outras formas, mais disfarçadas, mas não menos perigosas. É o caso da preguiça e da atitude contrária, o excesso de trabalho. Há pessoas viciadas em trabalhar.
 
O TRABALHO é uma necessidade. São Paulo dizia: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2Ts 3,10). Para Calvino, a preguiça era o pior defeito. O trabalho é um serviço que prestamos aos demais e com ele ajudamos a Deus a concluir a criação do mundo. Bem feito, torna-se oração. Quando passa dos limites, torna-se perigosa dependência. Esta dependência compromete a família, a fé, a saúde, os amigos e costuma associar-se à ganância e fazer do dinheiro um ídolo.
 
QUAIS SÃO as coisas mais importantes? É a família, a religião,o trabalho, o descanso, o serviço gratuito, as amizades... Em função delas devemos estabelecer prioridades e organizar nossa vida. Essa a receita para ser livre e feliz.
 
Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano