A FESTA DA MICARETA

29 de abril de 2013 \\ O Bispo

Alegria e responsabilidade constituem atitudes profundas no homem e não contrastam entre si. Temos até necessidade de cultivar sentimentos tão sagrados. A micareta, que transcorre nestes dias, deveria trazer para todos momentos de descanso, de fraternidade e de alegria. É igualmente a responsabilidade que deve ser levada em conta, pois nos obriga a examinar as condições para que esta alegria seja duradoura e extensiva a todos.

PODEMOS observar que o desejo do povo é de transformar esta vida, tão sofrida, numa vida alegre. O povo quer ter um espaço de liberdade onde os preconceitos raciais, culturais, sociais e até mesmo religiosos sejam deixados de lado. O povo quer um espaço onde a energia, a dança e o calor da amizade, manifestem solidariedade e partilha.

FESTEJAR faz bem. Alimenta o espírito, renova o corpo, reaviva a esperança de dias melhores. Por isso, precisamos preservar nossas festas, celebrar nossas vitórias, viver nossa cultura e mostrar a todos nossas capacidades, nossas artes, nosso folclore. Precisamos plantar nossa esperança na sementeira muito fértil que é nosso povo, pobre de dinheiro, mas rico em justiça, ética, cultura, alegria e fé.

A DIVERSÃO, porém, não pode dar lugar a exclusão. O que era antes uma tradição cultural passa hoje a ser explorado por “bandas empresa” que realizam uma micareta, na rua, para foliões que possam pagar (caro) pelo direito de brincar dentro do cordão de isolamento. Nossas manifestações culturais devem se revestir do acolhimento, da alegria, da partilha, e não o contrário. A cultura se constrói com a participação do povo, não com a exploração deste.

A MICARETA pode ser aproveitada como um tempo de festa e de alegria, sem exageros, sem abusos e sem dor de cabeça no dia seguinte. Qualquer um pode se alimentar bem, dançar, pular, gritar, mas sabendo que no dia seguinte a vida continua. Saúde jogada fora é vida a menos. Pior ainda, quando ela não volta mais.

A ALEGRIA faz bem para todos. O que se sugere é não abdicar da própria dignidade e responsabilidade. Não achar que a natureza pode ser enganada. Ela é exigente e se vinga contra os que a desrespeitam. O que será de muitas pessoas após a Micareta, quando as fantasias forem jogadas fora? São Paulo recomenda: “O Senhor espera de cada um, uma conduta digna de quem é Templo do Espírito Santo” (I Cor. 6,19), na Micareta e em todos os momentos da vida.

+ Itamar Vian
Arcebispo metropolitano
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