A DOR NA VIDA

15 de abril de 2012 \\ O Bispo

Abatido, um jovem deixou que a tristeza tomasse conta de sua vida. Não saía de casa, não participava de nada, não mais se interessava com os outros. Amadurecido pela experiência, um mestre pediu ao jovem que colocasse uma mão cheia de sal num copo de água. Qual é o gosto? O jovem admitiu que era horrível. O mestre sugeriu então outra experiência. Dirigira-se a um lago carregando em sua mão um punhado de sal, que foi jogado em suas águas límpidas. Beba um pouco desta água, pediu o mestre. Qual é o gosto? Bom, admitiu o jovem.

ENQUANTO caminhavam, o mestre falou sobre as duas experiências. A dor na vida da pessoa não muda, mas sua intensidade depende de onde a colocamos. Quando a dor nos atinge, precisamos aumentar o sentido da vida, de nossa existência no mundo. Não podemos reduzir-nos a um copo. Precisamos tornar-nos um lago.

DIFICILMENTE passa um dia sem que tenhamos algum sofrimento. Se o sofrimento é inevitável, cada um de nós tem o direito de escolher a maneira como vai sofrer. A pior alternativa é fechar-se em si mesmo e revoltar-se. Neste caso, a pessoa acrescenta ao seu sofrimento, o sofrimento maior da revolta. Porém, podemos escolher outra abordagem: acolhê-lo com paciência e serenidade. Isso não significa passividade. Temos o dever de superar todo o sofrimento, até por uma questão de fé.

É INTELIGENTE fazer a paz com o passado. Ele é imutável. Aceite-o como ele foi. É inteligente também não querer carregar hoje o possível sofrimento de amanhã. Suporte hoje a dor de hoje. Não acrescente a de ontem, nem tente arcar com a de amanhã. E aprenda com a dor. Mesmo o acontecimento mais negativo tem algum ponto luminoso.

RELEMBRO uma frase de um professor: “Quando vejo as coisas que me são tiradas, vejo quantas me são dadas e agradeço”. Só depende de nós a resposta que daremos aos nossos sofrimentos. A decisão está em nossas mãos e somos plenamente responsáveis por ela.

NÃO SE ISOLE. Não sofra sozinho. A palavra tem valor medicinal. Externe sua dor, sem ser repetitivo. Acolha as observações e os convites dos outros. Por fim, lembre a solidariedade do mestre Jesus: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e Eu vos aliviarei” (Mt 11,28).
+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
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