QUATRO CASOS

16 de janeiro de 2012 \\ O Bispo

O mundo de dona Elisângela  pareceu desabar no dia em que o filho, com algum constrangimento, mas com muita decisão, revelou-lhe que era homossexual. Pensou nos comentários das amigas, pensou... Dias depois, o filho apresentou-lhe o namorado. O drama de outra mãe foi diferente. Adorava o marido, tudo fazia para fazê-lo feliz, na cama, na mesa e no dia a dia. Sem qualquer crise, ele disse-lhe que amava outra mulher, vinte anos mais nova, e iria morar com ela.

EM OUTRO LAR, Geraldo notou que a esposa estava cada vez mais esquecida e tinha dificuldades para as tarefas rotineiras. Marcada uma consulta, o resultado foi péssimo: demência de Alzheimer. Outro drama afetou a vida de Euclides e Silvana: o filho único 23 anos, morreu em um acidente.

OS QUATRO casos têm muito em comum. É o mundo que desaba, é um futuro sem horizontes. A impressão é que a vida acabou. E nos quatro casos não existe muito que fazer no terreno prático. No campo psicológico, as alternativas são pobres: raiva, frustração, desânimo. São navios destroçados navegando sem rumo no mar da solidão.

NO ENTANTO, existem soluções. A primeira delas é conscientizar-se que a vida não acabou. A pessoa tem o direito e o dever de continuar sendo feliz, embora de outro jeito. É preciso partir do que existe e caminhar para a aceitação e não para o desespero.

É PRECISO  partir daquilo que existe. Aceitar o que existe não significa gostar do que existe, nem significa permanecer passivo diante dos fatos. Significa: parar de torturar a si mesmo, parar de se achar culpado e fazer as pazes com esse fato. Aceitar o que existe é continuar preferindo que as coisas fossem diferentes e renunciar à raiva, ao medo e ao desânimo.

A PARTIR daí, levar uma vida normal. Continuar cuidando o físico, continuar fazendo o que gosta – caminhar, viajar, escutar música – não abandonar as amizades e partilhar as emoções com pessoas próximas. Além disto, existe um núcleo secreto que precisa ser trabalhado: não deixar que a mágoa e o ódio tomem conta da vida. Isso significaria acrescentar mais uma dor à dor. E o mais importante: buscar junto á fé a serenidade que ajude a viver uma dimensão positiva. Jesus sinaliza: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e entristecidos e Eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Devemos dividir com Ele o peso da cruz.

+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
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