MESMO ASSIM, É NATAL

18 de dezembro de 2011 \\ O Bispo

Na plenitude dos tempos, nos campos de Belém, os Anjos anunciaram Paz na Terra à humanidade amada por Deus. Era a realização das grandes profecias.

SEM PALAVRAS suficientes para iluminar o grande acontecimento, os profetas lançaram mas das mais incríveis comparações: o deserto se transforma numa planície florida, o filhote de leão come palha com o boi, o lobo e o cordeiro vivem juntos, a cobra esquece seu veneno e brinca com o menino e as espadas fundidas se transformam em arados. O velho Simeão resume a alegria messiânica, dizendo a Javé: agora podeis deixar vosso servo partir em paz, pois meus olhos viram a Salvação.

PASSADOS dois milênios, surpresos nos interrogamos: Por que ali nos campos de Belém há homens-bomba, explodindo e matando desconhecidos e inocentes. A Terra Santa não conhece a paz, apenas constata a cada dia, marcas de ódio e de sangue. A sombra do medo sobrevoa nossas grandes metrópoles, sob a forma de aviões, de bombas caseiras colocadas nas lixeiras ou gases venenosos atirados sem lógica.

MAS O MEDO não vem apenas das armas. Um exército de quarenta milhões de aidéticos se arrasta, a passos lentos, na direção da morte. Um terço da humanidade vive na pobreza, mas esta terça parte é feliz, pois outro terço vive na miséria absoluta e degradante. Ao lado de gigantescos hipermercados e shoppings, mendigos exploram as latas de lixo. Ao lado de sofisticados hospitais que falam a linguagem do raio laser, dos transplantes múltiplos e da clonagem, milhões morrem de doenças velhas como a humanidade e que poderiam ser, facilmente, riscadas da face da terra.

MAS A FLORESTA não pode esconder as árvores. Cada um de nós carrega consigo uma inquietante fraqueza moral. Continuamos lobos, uns para os outros, e destruímos arados para fazer espadas. Sem nenhuma dúvida, constatamos que somos propensos e capazes do pior. Somos capazes até de assassinar os pais, em nome do dinheiro.

MESMO assim, apesar disso e por isso mesmo, devemos proclamar que é Natal. E porque é Natal, temos certeza que nada foi perdido. E porque é Natal nos damos conta que o amor de Deus jamais voltará atrás. É para sempre. E porque é Natal nos damos conta que um mundo diferente é possível. Porque é Natal, somos maiores que nossas misérias, somos seres salváveis, somos uma humanidade redimida. E continuamos amados por Deus. E por isso, pedimos perdão, enxugamos as lágrimas: Feliz Natal!

+ Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano
[email protected]