Quem é o culpado?

01 de agosto de 2011 \\ O Bispo

Sua profissão era a de lenhador. Com ela ganhava seu sustento e o sustento de sua família. Suas armas: o vigor físico e o machado. Num belo dia seu machado desapareceu. Tratou logo de identificar o autor de roubo. Fizeram isso por inveja e ganância, raciocinou o lenhador. Pôs-se a andar pelas redondezas para ver se descobria o ladrão.
CAMINHOU apenas uma centena de metros e encontrou um vizinho. Parecia apressado e desviou o olhar. Ali está o ladrão, julgou o lenhador. A pressa, o rosto pálido, envergonhado, denotam sua culpa. Chegando ao centro da vila, entrou numa ferragem para adquirir um machado novo. Mal entrou, o velho carpinteiro tomou a porta e desapareceu. Vejam, ele admite a culpa, concluiu o lenhador. Mas não tinha como provar e por isso pediu ao empregado que lhe vendesse um machado.
AINDA cheio de rancor foi trabalhar à tarde. Como podiam fazer isso com um pobre lenhador que ganhava com o machado o suor de seu rosto? Chegando à floresta, num velho tronco, lá estava seu machado. Simplesmente ele o havia esquecido, no dia anterior, quando foi beber água numa fonte próxima.
OS CULPADOS são sempre os outros. Este parece ser um código de leitura diante de tudo o que dá errado. É a esposa, é o pai, são os filhos, é o vizinho, são os políticos, é a Igreja, é o governo. Os outros, sempre os outros. Eles são os culpados. Já no Jardim Terreal começou a ser escrito o manual de acusação contra os outros. Surpreendido em falta, Adão atribuiu a culpa à serpente.
O EVANGELHO nos alerta: se teus olhos forem turvos, a realidade ficará turva, o olho é a lâmpada do corpo (Mt 6,22). Muitas vezes, o mal que vemos nos outros está dentro de nós. O homem invejoso verá inveja nos outros, a mulher vaidosa perceberá a vaidade nas outras. Já a pessoa bondosa verá apenas a bondade.
NÃO SOMOS anjos, mas seres humanos, com qualidades e limitações. Porque somos humanos, precisamos administrar as limitações. E neste sentido devemos aprender a perdoar a nós mesmos, diante dos erros. Em caso de culpa comprovada dos outros, a solução também é o perdão. Só ele é capaz de zerar tudo e recomeçar de novo. E com a mesma medida que julgamos, seremos julgados um dia.