“Movimentos autônomos sem lideranças”: a sociedade em rede

25 de junho de 2013 \\ Jorge Amorim

100 mil pessoas na capital fluminense, Rio de Janeiro. Outras mais de 65 mil em São Paulo capital. Cinco mil, podendo ter extrapolado, nas principais avenidas de Salvador, cidade-sede do Estado da Bahia. Em Porto alegre, Curitiba e Fortaleza, respectivamente capitais do Rio Grande do Sul, Paraná e Ceará, além da capital federal Brasília, disseminaram-se passeatas que, somadas àquelas, beiraram 300 mil jovens, adultos, idosos e crianças. Isso na segunda-feira, 17 de junho, pois na quarta-feira esse número mais que triplicou pelo país, ultrapassando mais de um milhão de manifestantes.
 
As lentes das câmeras de redes televisivas lançavam para o Brasil e para o mundo algo mantido na quietude durante 21 anos, desde 1992, então ano das reinvindicações “pró-
impeachment” de Fernando Collor de Mello (1990-1992).
 
A grande diferença – leia-se, por favor, “grande” com a impressão de letras garrafais – é que as “mobilizações pelo passe-livre”, que podem ter duplicidade de significados, formaram-se sem um líder polarizador e sim por meio das redes sociais – lê-se Facebook, Twiiter, Hotmail, Outlook etc., através de smartphones, Iphones, celulares etc. –, as principais caixas de ressonância que conseguiram reunir gritos contra a corrupção, gastos com as bilionárias arenas de futebol para a copa das confederações, infidelidade partidária, a PEC 37 (proposta que objetiva diminuir o poder de investigação do ministério público) e outrostemas que estavam engasgadose ganharam a objeção da estudantada.
Impedindo a promoção de quaisquer bandeiras partidárias, o que ousamos aqui chamar de
 
“Movimentos autônomos sem lideranças” conseguiram – e torçamos que permaneçam assim – retirar da letargia boa parte da juventude que, parafraseando um trecho de hino nacional brasileiro, parecia adormecida “eternamente em berço esplêndido”. O acúmulo de omissões e corrupções dos nossos representantes políticos fez explodir as mobilizações, apesar dos infiltrados nelas dispostos a mancharem-nas.
 
O “choque” disto tudo, no sentido positivo, é percebido pela magnitude das redes sociais, às quais começaram a ser usadas com objetivos politicamente corretos desde as manifestações no Oriente Médio (2011 para cá), chegando às ocupações em Wall Street, Nova Iorque (EUA, 2011-2012). Ou seja, o século XXI começa a mostrar a força das mobilidades sociais através da rede mundial de computadores, comumente conhecida por internet. Atentemos para isto caro leitor ou cara leitora.
 
E por que é importante vermos movimentos semelhantes nos locais de menos densidade demográfica, como os municípios de médio e pequeno porte? É lá onde as pessoas habitam. A preocupação principal necessita ser a ênfase nas causas que os movimentos pretendem defender, sem exagerarem no “ôba-ôba”. As manifestações lideradas pela “primavera” brasileira que tomou as ruas representam um momeento ímpar da nossa história recente e ele não pode ser desperdiçado e nem desgastado pelo tempo.
 
Falamos em algumas colunas da existência no Brasil de uma parcela acomodada pelo assitencialista programa Bolsa Família e outra alienada ao consumo ególatra. E não vamos desfazer essas verdades. O importante é sabermos hoje o quanto temos outra relevante parcela de gente descontentada com o nosso sistema político brasileiro, muito mais próximo do século XIX do que da “era virtual”.
 
A arregimentada opinião pública no mês de junho de 2013 promulgou à todos nós que a mudança pode ocorrer com palavras de ordem, flores, caras-pintada e serenidade. O “gigante pel própria natureza” deve almejar transformações apoiando-se na socidade em rede. “É a hora!”
 
Jorge Amorim
 
Licenciado em história pela Universidade do Estado da Bahia, campus Santo Antonio de Jesus, e mestre em história contemporânea pela Universidade de Lisboa, Portugal. É autor do livro “Entre a Serra e a Vargem: estudo da história e das culturas de Varzedo nos séculos XIX e XX”, além de atualmente ser professor da Faculdade de Ciências Educacionais. E-mail: [email protected].