O “amigo” que está sempre perto (ao menos no início do século XXI)

10 de junho de 2013 \\ Jorge Amorim

É quase certo a cara leitora ou o caro leitor ter feito uma consulta ao seu atual “amigo” de todos os momentos, “aquele” cuja função é ajudar-nos quando mais necessitamos dele, ainda mais que a sua disponibilidade é constante. Não faz cara feia, é desprovido de preguiça, praticamente não fala e é obediente sem questionar. Nos últimos dezessete anos o Brasil tem visto o número daquele “amigo” ultrapassar o da sua população... Do que é que estamos falando?

Ôxe, claro que é do apaelho de telefonia móvel, comumente apelidado de celular. Ele é o xodó dos indivíduos cada vez mais preocupados em cuidá-lo e tratá-lo como se fosse um parente, evitando quaisquer desapegos que se confundam com abandono. Por falar nisso, o caro leitor ou a cara leitora já deu uma pausa nesta leitura para dar uma olhada no seu “amigo” celular? Por favor, fique à vontade que nós esperamos...

A popularização da tecnologia tem presenteado as diferentes esferas sociais com aparelhos celulares – em Portugal se diz telemóveis – produzidos com adaptações como acesso às redes sociais, câmera fotográfica, mp3 player, rádio, e-mail, GPS, internet e “bleutooth” (pronuncia-se “blutúf”). Nosso “amigo” está promovendo tantas maravilhas que um dos seus aplicativos, aquele último, é uma riqueza histórica batizado pela Ericsson.

Esta empresa sueca de telecomunicações, com o apoio de outras, desenvolveu o sistema “bleutooth” em 1998, inserindo-o nos celulares pouco tempo depois a fim de permitir a transmissão de dados e arquivos de forma rápida, isto é, a “união” entre aparelhos por meio dos seus documentos transferidos pela comunicação sem fio.

A homenagem do nome “bleutooth” é ao rei da Dinamarca e da Noruega no século X Harald Blátand (935-985 ou 986), em inglês Harold Bleutooth, sobrenome que significa “dente azul”. Blátand ou Bleutooth, que reinou de 958 até o ano de sua morte – provavelmente 985 ou 986 –, conseguiu concretizar a unificação dos povos escandinavos hoje correspondentes aos noruegueses, suecos e dinamarqueses.

Sem sombra de dúvida, o aparelho celular há muito tempo deixou de ser uma mera ferramenta de comunicação para alcançar o status de um adereço que tem até “roupa” e tudo – ou melhor, capas e películas cheias de balangandãs. Domenico De Masi, sociólogo italiano professor da Universidade de Roma, diz em um fragmento do seu clássico “O futuro do trabalho” [Editora José Olympio/ Editora da UnB, 1999] que as tecnologias “gozam de uma extraordinária penetração” e “melhoram a qulidade dos produtos”, podendo incluir aqui os celulares.

E onde ficam as relações humanas? Se ficarmos alguns instantes observando as pessoas em um lugar movimentado, de cada dez transeuntes praticamente os dez olham para o seu “amigo” tecnológico. Estando paradas, em pé ou sentadas, irão dedilhar a telinha de LCD para confirmar se chegou ums mensagem ou se recebeu alguma ligação “perdida”. Quantos estão namorando neste momento pelo celular, se conhecendo com a contribuição desse “cupido cibernético”? Você já se sentiu “excluído” do mundo e quase em desespero somente pelo fato de a bateria do seu telemóvel ter descarregado?

Não foi à toa a nossa intenção de colocar as aspas na palavra “amigo” quando nos referíamos ao celular. Apesar de ser imprescindível a interação humana, muitos de nós têm optado pela “amizade” da máquina, o que poderá resultar negativamente – já está resultando – nas nossas relações com outras pessoas devido substituirmos elas pela frieza tecnológica. Como infeliz “lei do retorno”, a depressão, a obesidade e a irritação repentina estão se tornando os males do século XXI, efeitos colaterais daquele “amigo”. Cautela com ele.