A “última flor do Lácio”, nossa musa
Concordaremos em uma coisa, cara leitora ou caro leitor, que quando ouvimos alguém falar dois termos conjuntivos iguais soa “pesado”, como por exemplo: “- O ônibus está demorando, ‘mas porém’ [que tétrico!] deve chegar logo”. Para quê reforçar a mesma coisa que tem o mesmo significado, já que o monossílabo “mas”, uma conjunção denotativa de oposição ou diferença, é o mesmo que “porém”, “contudo”, “todavia”, “entretanto”, “apesar disso”, “não obstante”?
Bom, pode ocorrer de ser dito que cometemos lapsos verbo-nominais na nossa tão profusa língua-mãe, a língua portuguesa, idioma de origem indo-europeia dialogada primordialmente no Lácio, região romana, e irmão ‘caçula’ das línguas francesa, espanhola, italiana e latina, daí o uso poético da metonímia “última flor do Lácio”, tão utilizada por escritores, poetas, compositores e cantores portugueses, brasileiros, angolanos, cabo-verdianos e de tantas partes do globo terreestre.
A questão, porém, trazida por nós aqui diz respeito ao tanto de máculas que vêm atingindo o vocabulário espalhado pelos portugueses na América do Sul, na África e na Ásia durante a ascensão mercantilista e absolutista (do século XIV ao XVIII). Estamos nos restringindo exatamente ao Brasil, onde recentemente doi denunciado que estudantes aprovados para entrarem nas universidades brasileiras através do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, escreveram erros grotescos em suas redações ocorridas em 2012.
Alguns dos nossos doutores da gramática brasileira podem defender a ideia de que mais importante do que falar bem o português é fazer com que ocorra a transmissão comunicativa, independente de ela estar sendo correta entre receptor e emissor e vice-versa. Por estas e outras é que vamos observando, literalmente, o laconismo da língua portuguesa. Será que há a aprovação de quem escreve “’menas’ verdade” em uma redação que disputa vagas no setor público, seja este nas esferas estaduais e federal?
Transmitir em um diálogo o uso mais ou menos correto da língua de Camões não corresponde falarmos ou escrevermos rebuscadamente, com esmero e com certos traços de pedantismo. Corresponde sim respeitarmos a simplicidade dos termos, valorizando-os sem o abuso de empobrecê-los com redundâncias (Ex.: “‘mas porém’” ou “a ‘gente vamos’”). Qual a dificuldade em proferir a correta frase: “- Estou indo ‘ao’ médico amanhã” em substituição a errônea: “- Estou indo ‘no’ médico amanhã”?
Faltou escola para muita gente, tudo bem, é sabido isto. E o que dizer aos milhões de alunos brasileiros que hoje têm a possibilidade de aprender a falar e a escrever por meio dos professores, de programas televisivos, de jornais, revistas, livros e pela rede mundial de computadores (a famosa “www...”)? Pode-se expressar o tão múltiplo idioma português colocando plural onde deve ser colocado, singular com singular, conjunções uma vez somente etc.
Fiquemos atentos ao que muitos dizem sobre ser mais relvante “falar ou escrever errado”, não obstante “passar a mensagem”. Afastemos quaisquer elitizações verbo-nominais, mas não empobreçamos a “última flor do Lácio”, nossa inspiradora musa.