Terapia em Foco

Terapia em Foco

Daniella Sinotti
  • A armadilha da medicalização excessiva de crianças e adolescentes

A armadilha da medicalização excessiva de crianças e adolescentes

14 de setembro de 2017 \\ Terapia em Foco

Um alfaiate queria muito vender um colete. Um homem experimentou e percebeu uma irregularidade na parte inferior, mas foi convencido pelo alfaiate a abaixar o ombro. Viu que a lapela estava enrolada, mas atendeu à sugestão de abaixar a cabeça para que ninguém percebesse. Sentiu que o gancho apertava e cedeu à recomendação de puxar com uma das mãos. Feito isso, comprou o terno defeituoso e saiu às ruas. Ao ver o homem, todos sussurravam sobre o belo terno trajado pelo aleijado.

Assim como o rapaz que comprou o terno, a competição instalada no mundo escolar, acadêmico e corporativo tem gerado uma demanda por fármacos que quase sempre mascaram uma realidade de angústias. A excessiva medicalização de crianças e adolescentes, sem criteriosa avaliação e acompanhamento médico, precisa ser amplamente discutida. Num horizonte próximo podemos ter gerações de adultos com sérios problemas emocionais, sobretudo transtornos de ansiedade e depressão.

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde indicam que o Brasil é o segundo mercado mundial no consumo do metilfenidato, utilizado no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O aumento de consumo em pouco mais de dez anos foi de 775%. O padrão de alta competitividade no ambiente escolar trouxe inversão de valores éticos e morais, que adoece as crianças, ao tempo em que enriquece a indústria de fármacos. Essa é uma guerra que deixa consequências nefastas.

Educar não deve ser apenas transformar alunos em depósitos de informações. Abrir o diálogo para compreender as relações no ambiente escolar e familiar, e contextualizar os dramas que acontecem nesses espaços é um desafio necessário. O médico psiquiatra Içami Tiba, no livro ‘Disciplina, limite na medida certa’, reforça a importância da complementaridade e da contextualização hierárquica e de autoridade. O aprendizado também é reflexo do equilíbrio físico, mental e emocional.

Escrito por Daniella Sinotti, Terapeuta Transpessoal Sistêmica e Jornalista.