Terapia em Foco

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Daniella Sinotti
  • Traição e dor: a parábola e a verdade

Traição e dor: a parábola e a verdade

06 de julho de 2017 \\ Terapia em Foco

Superar a dor e o trauma da traição e do fim de um relacionamento amoroso costuma implicar em sofrimento. Mulheres e homens de diferentes idades recorrem ao auxílio terapêutico para tratar das dores do amor. No ano passado, foi divulgado um estudo com indicativos de aumento de 25% no número de crimes passionais, um dado preocupante e que mostra o perigo do despreparo emocional.

A despeito de todas as mudanças que ocorreram nos padrões dos relacionamentos nas últimas décadas, e do aumento da aceitação de novas possibilidades no campo afetivo, costuma ser devastadora a dor causada pela rejeição e o sofrimento diante do desapontamento e da decepção amorosa. Abrir-se para a cura desse tipo de situação traumática pode levar tempo, é algo que não vem de fora, trata-se de um processo de ressignificação.

Não existe solução única e perfeita para tratar crises conjugais ou traições e separações. Cada caso precisa ser examinado de forma isolada, levando-se em conta o histórico da relação e as características psicológicas dos parceiros. Livros de autoajuda que prometem o casamento duradouro e perfeito normalmente não passam de um amontoado de conselhos retirados de antigas revistas femininas, com toques clichês, baseados em fórmulas prontas de felicidade.

Encarar as dores da alma, as sombras que se escondem no medo e na vaidade fazem parte de um processo doloroso, mas que costuma render os excelentes frutos do autoconhecimento. É uma viagem dura, mas com um retorno altamente positivo. Acredito ainda, que o uso de medicamentos possa vir a ajudar em alguns casos, sempre com avaliação médica criteriosa, mas o processo da cura só se dá quando a verdade é encarada.

‘A Verdade e a Parábola’ é uma historinha que ilustra bem essa necessidade que temos em não encarar a realidade, o que também se aplica à necessidade que temos em encarar os relacionamentos amorosos sob a ótica da ilusão. Um dia, a Verdade decidiu visitar os homens, sem roupas e sem adornos, tão nua como seu próprio nome. E todos que a viam lhe viravam as costas de vergonha ou de medo, e ninguém lhe dava as boas-vindas. Assim, a Verdade percorria os confins da Terra, criticada, rejeitada e desprezada. Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, trajando um belo vestido e muito elegante.

— Verdade, por que você está tão abatida? — perguntou a Parábola.

— Porque devo ser muito feia e antipática, já que os homens me evitam tanto! — respondeu a amargurada Parábola.

— Que disparate! — Sorriu a Parábola. — Não é por isso que os homens evitam você. Tome. Vista algumas das minhas roupas e veja o que acontece.

Então, a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola, e, de repente, por toda parte onde passava era bem-vinda e festejada.

Somos assim, não gostamos de encarar a verdade sem adornos. Preferimos disfarçar a nossa natureza sombria, mascarar nossos sentimentos e deixar nossos relacionamentos envoltos em mentiras, permanecendo inconscientes do que habita em nós. Para alargar a consciência, é preciso lançar luz nos nossos esconderijos sombrios, inclusive nosso lado escuro que projetamos naqueles que fazem parte do nosso convívio.

 Texto escrito por Daniella Sinotti, Terapeuta Transpessoal Sistêmica e Jornalista.

https://daniellasinotti.wordpress.com/2017/07/05/traicao-e-dor-a-parabola-e-a-verdade/