Quaresma Cristã

24 de fevereiro de 2016 \\ Osmando Barbosa

Quarta-feira, dia 11, iniciou-se o período mais importante para a fé cristã: a Quaresma. A quaresma é o tempo litúrgico que precede a celebração da Páscoa. É tempo de escuta da Palavra de Deus, de conversão pessoal, de recordação do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos.  A quaresma, ao contrário do que muitos propagam, não é um tempo triste e depressivo. É o tempo em que somos chamados a ser mais dóceis à graça de Deus para derrotarmos o nosso lado que busca o erro, o pecado. É a ocasião de renunciarmos aos vícios, às práticas que nos afastam do caminho que Deus almeja para nós. Ou seja, é o tempo de se buscar a verdadeira felicidade.
Desde os primórdios do Cristianismo, os cristãos procuram intensificar sua vida interior, mediante a penitência, a oração. É objetivo de todo cristão tentar participar com plenitude e alegria do Tríduo Pascal, que celebra a “memória da Paixão e Ressureição do Senhor, coração do mistério de nossa salvação”, como dito a cinco anos pelo Papa Bento XVI. 
A tradição é antiga. Há registros que datam do século II indicando que rigorosas penitências precediam a Páscoa já naquela época. No entanto, apenas no século IV a quaresma foi estabelecida oficialmente pela Igreja Católica.
Sua duração, ou seja, os quarenta dias entre a Quarta-feira de Cinzas e o Domingo de Ramos, inspira-se na simbologia, na tradição da Sagrada Escritura. O dilúvio durou quarenta dias, o povo hebreu peregrinou pelo deserto durante quarenta anos, Elias e Moisés passaram quarenta dias nas montanhas.  Ainda segundo o Papa Bento XVI: “durante a quaresma a Igreja quer nos convidar a reviver com Jesus seus quarenta dias no deserto, rezando e jejuando antes de aprender sua missão pública”. 
Durante este tempo especial de purificação, a igreja nos propõe uma série de meios concretos para que o homem do século XXI possa viver a dinâmica quaresmal: oração, jejum, doação. 
A oração é a condição indispensável para o encontro com Deus. Apenas no diálogo íntimo com o Senhor, nós cristãos nos abrimos a graça divina. Apenas em oração, nos abrimos à ação do Espírito Santo. Nesse período devemos ser capazes de meditar a palavra de Deus com mais profundidade. É necessário abrir nossos corações à penitência. Devemos ser sinceros com nós mesmos. Assumir nossos erros e caminhar a uma vida mais límpida, pura. Também devemos orar pelos nossos irmãos. A Igreja nos pede para ajudar a converter todas as almas. Oração e testemunho serão necessários a essa missão.
O jejum, não necessariamente a abstenção do consumo de carne, constitui um meio concreto de viver o espírito da Quaresma. Deus não nos exige grandes penitências. Muitas vezes ainda não estamos preparados para o mais simples. Oferecer a Deus os incidentes cotidianos que nos incomodam, aceitando com alegria os contratempos que podem apresentar-se: o trânsito lento, a chuva inoportuna, uma fila maior do que esperávamos. Podemos sacrificar a Deus nossas pequenas comodidades: o assento melhor na condução, uma sobremesa desnecessária. 
A doação. Dentre as práticas quaresmais, que a Igreja nos propõe, o exercício da caridade é, sem dúvida, o mais importante. Se quisermos chegar à Pascoa santificados no nosso íntimo, devemos ser capazes de sentir as dores de nossos irmãos. Devemos adquirir a virtude da caridade que contém em si todas as outras. A caridade nos leva ao amor nos afasta do egoísmo, da ganância, da vaidade. Proponho um exercício a essa Quaresma. Que tal doar a uma instituição de amparo social o mesmo valor que gastarmos com lazer nesse período? Devemos viver a caridade. E vive-la de maneira especial com aqueles que temos mais perto de nós, no nosso trabalho, com nossos familiares. Por que não sorrir um pouco mais, principalmente àqueles que não nos damos muito bem? 
Por fim, a Quaresma é o tempo propício para lutarmos contra os nossos defeitos mais arraigados. Devemos ser capazes de fazer um exame mais aprofundado de nosso dia a dia a fim de descobrir o que nos aproxima ou afasta de Deus. Mas de nada adianta apenas se conhecer. Devemos marcar metas palpáveis de melhora e nos esforçarmos para atingi-las. Se lutarmos confiantes na ajuda de Deus, Ele não nos deixará sós nesse luta pela conversão, ao contrário nos envolverá em sua graça.
Uma ótima Quaresma a todos!