Educação: quanto maior o trabalho, menor a remuneração

14 de dezembro de 2015 \\ Osmando Barbosa

Educação: quanto maior o

trabalho, menor a remuneração



Ser professor é, muito antes de ser uma profissão, é uma forma distinta e genuína de levar o amor ao próximo. Como já dizia o grande mestre Paulo Freire, “eu nunca poderia pensar em educação sem amor. É por isso que me considero um educador: acima de tudo porque sinto amor.”

Ser professor é muito mais do que preparar e ministrar aulas. Além das horas pagas no holerite, além da ideia de que aquilo é apenas um meio para se ganhar a vida. Professor quer saber o nome, quer saber quem é quem, quer saber as histórias, os origens, os rumos pretendidos.

A tarefa diária do professor envolve sentimentos: dor, alegria, frustração... É corrigir provas como quem assiste a um jogo de futebol, se lamentando quando um craque chuta a bola no travessão. Professor se envolve, mesmo quando tenta evitar. Professor se perde no cronograma. Não está lá só para cumprir horário e currículo. Está lá para parar a cada dúvida, para ensinar não só a matéria, mas ensinar o melhor do pouco- ou muito- que sabe sobre a vida. Mas, infelizmente sua remuneração está cada vez mais aquém de seu trabalho.

O salário inicial dos professores, no Brasil, é um dos mais baixos entre os integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, e mesmo entre os países latino-americanos, abaixo do Chile, Colômbia e México. Na pré-escola, paga-se menos da metade da média mundial. É o que mostra o mais recente relatório dos sistemas educacionais do mundo, Education At a Glance 2015.

As salas de aula brasileiras estão entre as que têm mais alunos por professor. Quanto ao preparo docente, 37% dos mestres declaram necessidade de mais formação para o uso das tecnologias, enquanto que, na média da OCDE, só 15% manifestam tal lacuna.

Baixa remuneração, excesso de alunos por turma e insegurança quanto a um importante ambiente de aprendizagem da atualidade, o tecnológico, acabam derivando no abandono da profissão. É o que nos conta o mesmo relatório: mais da metade dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental brasileiro tem menos de 40 anos de idade e apenas 15% deles tem mais do que 50. Aliás, somos o segundo colocado na lista de países com menos professores de 50 anos nesse nível de ensino. Dos que entram no magistério, poucos permanecem.

Nesse rápido olhar sobre a educação global, outro dado chama a atenção: o Brasil é um dos países que alocam maior percentual de recursos na educação, com relação ao gasto público total; mas, ainda assim, investe pouco por aluno: US$ 3.441 dólares americanos/ano, simplesmente US$ 5.876 dólares a menos do que a média da OCDE.

Ora, não há milagres. As consequências desse quadro inquietante aparecem páginas à frente, no mesmo relatório. Aumentou a quantidade de alunos formados no ensino médio, mas os índices de aprendizagem (por exemplo no PISA) seguem baixos e só 14% dessa mesma população conclui o ensino superior. Muita quantidade, pouca qualidade. Prova de que, em educação, o Brasil continua investindo menos do que deveria e ainda gasta mal, comparado com outros sistemas educacionais do mundo.