Pena! Poderia ser o contrário...

07 de dezembro de 2015 \\ Osmando Barbosa

Pena! Poderia ser o contrário...


O elevador de nossa economia não para. Essa semana, mais uma vez, duas variáveis mantiveram seus destinos. Enquanto os juros tendem a subir, o PIB parece não ter um piso: não para de descer.

O Senado reunido para decidir se vota em secreto ou vota em aberto para aceitar (ou não) a prisão do colega Delcídio Amaral, senador pelo PT, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. Discursos inflamados em defesa de um lado e de outro e, de repente, o Banco Central anuncia sua decisão sobre a taxa de juros básica da economia. Foi a última reunião do Copom em 2015 e pela quarta vez seguida, o comitê manteve os juros onde estavam, em 14,25% ao ano.

Até aí, tudo bem. Já era esperado que o BC não mexesse na taxa, ninguém teria que dar muita bola ao Copom. Afinal, a inflação está muito alta, resistente e muito afetada pelas expectativas negativas, como poderia ser diferente? Mas foi. No comunicado que divulgam junto com a decisão, os diretores do comitê disseram claramente, sem escrever nada, que os juros podem subir no curto prazo. O “não dito” ficou explícito por dois sinais. O primeiro deles: dos oito votos do colegiado, dois foram a favor da elevação da Selic já. O segundo sinal veio com a retirada da expressão: “O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante da política monetária”, que constava do documento da reunião de outubro. 

O que prevaleceu no encontro desta quarta-feira (25) foi a advertência feita também no comunicado passado: “O Copom ressalta que a política monetária se manterá vigilante para a consecução desse objetivo”. Quando retira de seu compromisso público a manutenção do juros por tempo “prolongado”, o Banco Central se autoriza a mexer na taxa em qualquer uma das próximas reuniões para controlar a inflação. E no cenário atual, só há uma direção possível para os juros no Brasil: para cima. 

Neste ano, o IPCA deve ficar perto de 11%, não há mais nada a fazer. O alvo do BC agora é do meio do ano que vem para frente. As previsões para o indicador oficial em 2016 já ultrapassam 6,5%, que é o teto da meta estipulado pelo governo para o limite máximo a ser alcançado pelo Copom. Se não segurar o dragão com tudo, a batalha pode ser perdida muito antes de acabar. E, pelo visto, não há recessão, ou desemprego, ou crise fiscal, ou caos na política que esteja no caminho do BC.

Por outro lado, o resultado do PIB do terceiro trimestre mostra que a recessão está mais forte e veloz. Segundo o IBGE, a atividade econômica teve queda de 1,7% entre julho e setembro. Consumo das famílias, produção industrial e construção civil estão todos embalados na queda – um empurrando o outro para baixo. O dado mais alarmante, porém, não é o que revela a cara feia do passado e sim o que prenuncia o futuro – o quadro dos investimentos e da poupança.

A taxa de investimento na economia equivale hoje a 18,1% do PIB, era de pouco mais de 20% há um ano. A taxa de poupança, fechou o terceiro trimestre em 15%, ante 17,2%. É a poupança que financia o investimento. É o resultado do investimento – mais produção, mais emprego, mais renda – que financia o crescimento da poupança Quando essa dinâmica está negativa e viciada, ela compromete o crescimento da economia, ou melhor, o bom crescimento, aquele que se desenvolve com eficiência e não pressiona demais a inflação.

O PIB de 2015 está flertando com uma queda de até 4% e com isso, entrega para 2016 um país fraco, ineficiente e com pouquíssimas alternativas de revés. O resultado do terceiro trimestre já provocou revisão nas expectativas para o ano que vem que agora ultrapassam 3% de desempenho negativo. Não são os números que assustam, ou a estatística que vai fazendo seu papel na troca das previsões. De todos os dados e detalhes apurados pelo IBGE nas contas do PIB, só um deles veio positivo: os gastos do governo continuam crescendo! O que esperar de um governo que está perdendo receita num país em profunda recessão, mas que continua a gastar mais? Diante desta realidade, não há investimento ou poupança que cresça. Para sair desse ciclo cruel e que desce a ladeira sem freios, só um pedal disponível: a confiança. E, não valendo milagre, ela só será acionada quando o “motorista” enxergar o fim da serra sinuosa – mesmo que seja pelo aplicativo com GPS.