Pedaladas e inflação: uma relação inesperada

23 de novembro de 2015 \\ Osmando Barbosa

Pedaladas e inflação:

uma relação inesperada


E eis que a mais ou menos quinze dias foi revelado o tamanho do rombo nas contas públicas. Isso mesmo, leitor! Depois de muito enigma, o governo foi obrigado a reconhecer o tamanho do buraco cavado nas contas públicas deste ano: R$ 118 bilhões para cobrir as pedaladas, a queda na arrecadação e o descaso do Congresso Nacional com as medidas do ajuste fiscal. Ao conhecer o resultado das contas públicas no mês de setembro, fica claro que não seria possível algo diferente.

Segundo o Tesouro Nacional, nos nove primeiros meses do ano faltaram mais de R$ 20 bilhões para fazer os pagamentos do governo federal – sem contar o que é devido de juros da dívida pública. Também está claro que esse buraco vai crescer bastante nos três últimos meses do ano. Este é o pior déficit primário para setembro desde 1997. Naquela época o país se encantava com a inflação controlada e o dólar valendo R$ 1.  Há dezenove anos a administração das contas públicas se resumia a se endividar em dólar para manter a inflação baixinha e acolher os ‘esqueletos’ escondidos em Brasília – o caixa furado dos bancos estaduais e federais, dívidas disfarçadas na contabilidade federal, arrecadação desorganizada e por aí vai.

A conta cresceu tanto que em 1999, para não jogar o Plano Real no lixo da história, o governo de Fernando Henrique Cardoso precisou fazer correções: soltar o câmbio e se comprometer com sobras de recursos para o pagamento dos juros da dívida pública – ‘a primeira meta de superávit primário a gente nunca esquece’. Para completar a receita de arrumação, o Brasil adotou o sistema de metas para inflação - esse que está hoje meio capenga mas é o que temos.

Desde então, pelo menos até 2011, o governo conseguiu gerir os cofres públicos sem judiar dos fundamentos. Para passar a crise mundial de 2008 o ex-presidente Lula afrouxou um pouco a corda para evitar um tombo muito grande da economia diante do cenário de terra arrasada lá de fora. Deu resultado, mas a dose continuou a ser aplicada em quantidades exageradas até virar uma gestão irresponsável. Diferentemente de 1999, não tem ninguém disposto a pagar essa conta, principalmente depois do país ter experimentado a fórmula que estava dando certo.

O quadro internacional não ajuda muito porque a recuperação das grandes economias cambaleia. Dentro de casa, a política revela o pior dos homens públicos do país que não escondem o desdém com a desorganização da economia e com os ajustes necessários. Nosso atrativo é ter a taxa de juros mais rentável do mercado, seduzindo o investidor a passar uns minutinhos carregando um ativo brasileiro, fazer um bom dinheiro e devolver o mico arriscado.

E a inflação? Este labirinto, fruto inegável dos erros na condução da economia do país, parece não ter saída. Quando a gente acha que está quase lá, damos de cara com uma nova parede – ora do dólar, ora da gasolina, ora da energia elétrica. Estes choques não serão permanentes, mas dão força a uma dinâmica de preços que está presa a um ciclo vicioso. E para completar o cenário, está difícil acreditar em quem tenta guiar a trilha. Como seguir um Banco Central que está há 5 anos dizendo que o IPCA vai reencontrar os 4,5% da meta de inflação logo ali? Esse “logo ali” é daquele de mineiro que aponta com o queixo uma distância que leva léguas para ser percorrida.