Nem tudo são espinhos

05 de novembro de 2015 \\ Osmando Barbosa


A economia não é uma estrada em linha reta. Muito pelo contrário. Está muito mais para um circuito de fórmula 1 como aquele temido no Principado de Mônaco a outros cheios de retas como o Ímola, na Itália. As economias crescem, se desestabilizam, diminuem, se estabilizam e retomam o crescimento. A diferença entre os estágios, o prazo e a intensidade em cada um deles, vai depender da maturidade social e institucional de cada nação. O que é comum a todos, e é também inevitável, é a conta pelos exageros cometidos principalmente na bonança.

O exemplo mais recente e de proporções planetárias foram as falências em massa de 2008. Era uma euforia sem precedentes, todo mundo ganhando muito, fazendo dinheiro nascer em árvore e consumindo tudo que havia disponível. A bolha ficou tão grande que, quando explodiu, “choveu” crise pelos quatro cantos. Pelo seu tamanho e dinamismo, os Estados Unidos provaram mais um vez que têm um dinamismo inesgotável e, claro, são donos da moeda do mundo. Pela sua estrutura arcaica e envelhecimento das instituições, a Europa sofreu mais e leva mais tempo sair da crise – eles já pararam de cair, agora testam a estabilidade para avançar na retomada.

Hoje não é diferente. No horizonte do mercado de trabalho há nuvens, muitas nuvens - e escuras. O desemprego ficou estável entre agosto e setembro pelas contas do IBGE – 7,6%. Mas a quantidade de gente desocupada cresceu 56,6% na comparação com 2014. É uma disparada maluca e que não foi prevista nem pelos mais pessimistas. Uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), ligado ao comércio, prenuncia dias mais difíceis: 88% dos empresários consultados não contrataram e não pretendem contratar funcionários para o final do ano.

A mesma pesquisa do SPC revelou que mais da metade dos comerciantes venderam menos do que o esperado nos últimos 90 dias. Ganhando menos, como contratar mais? E nada indica que o horizonte vá desanuviar. Para 44% dos empresários ouvidos no levantamento, o desempenho em 2015 será pior do que o de 2014. Eles dão três motivos para o desalento: recessão, desemprego e inflação.

Para a inflação, o horizonte também não é nada promissor. O IPCA deste ano está beliscando os dois dígitos e para 2016 ele até vai cair, mas ainda ficará longe dos 4,5% da saudosa meta de inflação. Em julho passado, os diretores que compõem o Comitê de Política Monetária alegaram explicitamente que a decisão de subir os juros para 14,25% era suficiente para garantir a convergência do IPCA para a meta em dezembro de 2016. Naquele mesmo julho, a média das expectativas apontava para um índice de 5,40% no mesmo período. A partir da primeira semana de agosto o barco virou de direção e as previsões começaram a subir. No último levantamento feito pelo Banco Central os analistas já esperavam um IPCA de 6,12% ao final do próximo ano.

Mesmo acompanhando essa reversão das expectativas, o BC insistiu naquele objetivo explicito de baixar o índice de preços. Em setembro, o compromisso estava lá bem claro: “O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros (14,25%), por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016”, dizia o comunicado da reunião do Copom de 02 de setembro.

Desde então, uma jamanta carregada com crise política, as pedaladas fiscais e a alta do dólar atropelou e deu ré por cima do Brasil. Quando se deu conta do tamanho do estrago, o BC acordou para a realidade: nem o super-herói dos juros altos seria capaz de baixar a inflação tão rápido. Para se proteger de novas “jamantas”, o Copom desistiu do “final de 2016” e adiou sua obrigação para um “horizonte relevante para a política monetária”. Em português, não tão explícito quanto foi aplicado antes, isso quer dizer que o BC está vendo o IPCA em 4,5% só em outubro de 2017!

Com a mudança de “horizonte” e sem promessas categóricas, os guardiões da moeda brasileira se auto premiam com a flexibilidade e um compromisso mais elástico para cumprir seu mandato. Não está errado não. É sábio, principalmente em momentos de crise como o atual, a autoridade monetária ter alguma folga para se ajustar aos atropelos. Errado foi fincar bandeira numa data com tantas incertezas pelo caminho.