O BEIJO DO PAI

11 de agosto de 2014 \\ O Bispo

Era a primeira vez que o pedreiro Romualdo comparecia a uma reunião da escola. Dona Rejane, a diretora, insistiu na necessidade dos pais comparecerem sempre às reuniões do colégio mesmo sabendo que muitos deles não podiam ir. A diretora ficou surpresa quando Romualdo explicou, na sua humildade, que ele quase não tinha tempo de falar com o filho. 
 
O PAI saía muito cedo para trabalhar e, à noite, quando voltava, o filho já estava dormindo. Assim mesmo, ia até a cama dele e dava-lhe um beijo. E para que seu filho soubesse da visita e do beijo, dava um nó na ponta do lençol que o cobria. De manhã, ao acordar, ficava sabendo do carinho do pai. E dona Rejane deu-se conta de que o filho de Romualdo era um dos melhores alunos da escola e sempre dissera ser amado pelos pais. 
 
O TEMPO é importante na educação e a ausência dos pais é muito sentida pelos filhos. Às vezes eles têm a impressão de serem órfãos de pais vivos. Mas o tempo não é tudo. Há pais que têm muito tempo para ficar em casa com os filhos, sem que isto em nada resulte de positivo. Quando a novela, o futebol ou mesmo o computador ocupam o tempo todo, de nada adianta a presença física.
 
EXISTE o tempo quantidade e o tempo qualidade. Romualdo tinha pouca quantidade de tempo, mas ele o qualificava. Mesmo assim, os pais precisam avaliar como gastam seu tempo. A sobrevivência econômica é um dado impossível de ignorar. No entanto, uma correta avaliação mostrará que outras coisas também são importantes. Mais tarde, se os pais, angustiados, se perguntarem: onde foi que erramos? O que fizemos? Talvez a resposta passe por este ponto: o que foi mesmo que deixamos de fazer? A empresa, a vida social, o clube, o lazer parecem ser coisas importantes e acabam roubando o tempo que os filhos têm direito.
 
PADRE Charboneau escreveu um dia a seguinte mensagem aos pais: “Só uma vez nosso filho terá três anos e estará doido para sentar em nosso colo. Só uma vez terá cinco anos e quererá brincar conosco. Só uma vez terá dez anos e desejará estar conosco, em nosso trabalho. Só uma vez será adolescente e verá em nós um amigo com quem conversar. Só uma vez estará na universidade e quererá trocar idéias conosco. Se nós perdermos estas oportunidades, nós perderemos nosso filho para sempre e ele não terá pai”.
 
 
Itamar Vian
Arcebispo Metropolitano