Meninos na caverna

18 de julho de 2018 \\ O Bispo


Mais de 1.300 profissionais trabalharam, na operação de resgate de doze meninos e o instrutor, numa caverna inundada na Tailândia. Milhões de pessoas, no mundo, rezaram e se comoveram. Foi emocionante ver a solidariedade de muitos países. O que parecia ser uma tragédia teve um final feliz. E aqui no Brasil tem crianças presas em “cavernas”?

POR MAIS otimistas que sejamos, não dá para esconder a situação de milhões de crianças no Brasil. Nas grandes cidades, inchadas pela migração do campo, elas se amontoam com os pais em barracos e favelas, quando não se espalham pelas ruas pedindo esmolas. Há crianças exploradas no trabalho. Há crianças prostituídas. Há crianças usadas no tráfico de drogas. Há crianças sofrendo violência dentro e fora de casa.

NO CAMPO a situação não é menos angustiante. Volta e meia, a televisão e as redes sociais estampam diante de nossos olhos, crianças com o corpo retorcido pelo excesso de carga que suportam nas costas, crianças enegrecidas por dentro e por fora pelo pó das carvoarias, crianças roubadas em seu direito de ir à escola para trabalhar na colheita do café, da laranja, crianças mutiladas pelos martelos com que quebram pedras e cocos.

BOA VONTADE para com as crianças e adolescentes até que existe. Tanto que temos um estatuto, elaborado há 20 anos e que suscitou muita esperança. Ali estão relacionados todos  os direitos da criança e do adolescente e os deveres da sociedade, do governo e da família em relação a eles. Trata-se de um perfeito conjunto de dispositivos legais que já tornou possíveis passos importantes, como os Conselhos Tutelares da Criança e do Adolescente. É hora de assumir esse estatuto com coragem e vontade política.

UM PAÍS que não respeita suas crianças, adolescentes e jovens e não lhes oferece condições para desenvolverem plenamente suas potencialidades está colocando em risco o futuro. Por isso, partidos políticos, sindicatos, organizações não governamentais, Igrejas se mobilizam para resgatar crianças que sobrevivem “presas” em “cavernas” construídas por políticos corruptos e pela própria sociedade. Para sermos coerentes, precisamos erguer, em relação a isso, a mesma bandeira da esperança nutrida para salvar os meninos, na Tailândia.