Nossos fracassos
O oleiro estava
trabalhando ao torno. Quando o vaso que moldava com barro se avariava com o
mesmo material fazia outro vaso. Ele mesmo se encarrega da conclusão. Esta
pequena parábola pertence ao profeta Jeremias. Ele mesmo se encarrega da
conclusão: “Como o barro na mão do
oleiro, assim sois vós em minhas mãos”, diz o Senhor (Jr 18,3).
O INSUCESSO e o fracasso fazem
parte de nossa vida. Nem sempre a intensidade é a mesma, mas sempre são
dolorosos. E muitas vezes são convites ao desânimo. Em minha vida nada dá
certo, argumentam alguns; e por isso, desistem. E justificam-se: o meu projeto
caiu e esfarelou-se, assim como acontece com o vaso de argila. Os pedaços não
servem para mais nada
O ÚNICO, o maior, o definitivo
fracasso é quando desistimos. Isso vale para a vida afetiva, econômica e social. Vale – sobretudo – para nossa fé. Há
dentro de cada um de nós a ilusão de sermos perfeitos, à semelhança de anjos.
Quando as coisas vão mal, desmancha-se nossa autoimagem, e surgem sentimentos
de culpa.
A CULPA nunca parte do Oleiro,
isto é, de Deus. Ele refaz uma, dez, vinte, setenta vezes, nosso projeto. E o
vaso pode ficar mais bonito. Deus jamais cansa de perdoar, lembra o Papa
Francisco. E o perdão de Deus não
ilumina apenas o passado. É convite para recomeçar. Para Deus não há casos
perdidos. Todos continuamos salváveis. A graça de Deus e a humildade da
criatura são os elementos básicos para esse recomeçar.
ENTRE os doze apóstolos temos
dois exemplos clássicos. Quase ao mesmo tempo, dois vasos caíram e se fizeram
em pedaços. Judas e Pedro traíram Jesus. O primeiro vendeu o Mestre por trinta
moedas, o segundo jurou que não o conhecia.
DIFERENTE foi a reação. Judas
desistiu, convencido que não havia mais
caminho de volta. Pedro, após chorar amargamente deixou que Jesus fizesse outro
vaso com o mesmo barro. Judas desapareceu no silencio do túmulo, Pedro
tornou-se o primeiro Papa. Se Judas tivesse permitido o Oleiro refazer o vaso,
teríamos, hoje, um santo de primeira grandeza.
NINGUÉM está livre de pequenos
ou grandes fracassos. Quando tudo desmorona, quando os sonhos mais lindos
acabam, ai é a vez de Deus. Ele precisa apenas de material disponível. No dia a
dia, muitos se erguem com sua força e vontade de fracassos econômicos e
afetivos. Bem mais fácil é a reconstrução espiritual. O apóstolo Paulo, que
teve seus problemas, proclama: “Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13).