ENTRE O MOÇO E O VELHO

05 de abril de 2015 \\ Milton de Britto

Ruas cheias de mentes vazias
Homens e mulheres se encontrando
E se digladiando
Rumo ao nada.
A coisa nenhuma,
 
Abrigo de ilusões perdidas
Avenidas e Praças
Repletas de desencontros
Caminhados pela vida
Sem ida e sem retorno.
 
Enquanto isto
Trago comigo a dor da recusa
Da minha mocidade
Que fluiu tão cedo
E tão de repente.
 
Dói em mim 
Saber que a juventude 
E a energia, contidas. 
Em meu corpo de segredo
Esvai-se desfigurando
A minha forma física
Sem clemência.
 
A minha sombra
Não me assusta.
Temo a minha figura
Refletida no espelho
Porque vejo em vão
Uma face que não possui o encanto
De Narciso, posto que, carcomida, 
Pela implacável senilidade.
 
Dói saber 
Que fui, que sou, e não serei.
 
Entre o moço e o velho serei o pó.
 
 
Feira, 14.05.2014.                    
 

Milton de Britto